O bebê vive inicialmente uma completa indiferenciação entre ele e o ambiente. Ele é um corpinho cheio de sensações que vão sendo descobertas. Não há separação do que é externo. Tudo ao redor também é ele. Então, surge um desconforto: ele sente fome. Reage e descobre o chorar. E mais: o seio vem e o alimenta. Até aí, o seio também é ele. Aos poucos, vai experimentando momentos de não-satisfação. Às vezes chora, mas o seio não vem.
Começa o ciclo de busca do prazer e fuga do desprazer. E a criança passa a usar o choro para tudo. Uma dor no ouvido ou no pé, dá-lhe chorar. Vai a mãe (e/ou o pai) decifrar. Nem sempre consegue. O bebê também vai entendendo que seu universo termina ali ao alcance das mãos. O seio que alimenta não é ele. Existe um vasto mundo. Nasce a realidade!
É nesta interação com o meio que a criança se desenvolve. Pai e mãe devem estar juntos dando apoio e cuidando. É da troca entre mãe-bebê que este novo serzinho se torna capaz de criar uma imagem do mundo. A mãe é o principal mediador, mas todos influenciam: além do pai, irmãos, parentes e amigos. A família ajuda a criança a estabelecer sua identidade ao oferecer valores a serem adotados, papéis a serem representados e objetos a serem desejados. No início, todas as funções são limitadas: percepção, consciência e tantas outras. Elas se desenvolvem a partir das vivências de prazer e de desprazer.
A formação psíquica, ou da mente, nos pequenos se dá a partir do equilíbrio entre prazer-desprazer e é o afeto que torna uma experiência importante ou não. São os sentimentos e emoções que os pais imprimem a determinados acontecimentos na vida da criança que vão desenhando a subjetividade, o psiquismo ou o jeito único característico de cada um de nós.
Alguns momentos iniciais importantes no processo de desenvolvimento psíquico são: quando o bebê sorri para um rosto humano, depois quando demonstra se sentir angustiado diante do rosto de uma pessoa estranha que não seja a mãe e quando começa a ouvir a palavra “não”. Esta última é decisiva para as relações com os outros e o acesso ao mundo simbólico. São momentos que servem para organizar a mente.
O domínio do simbólico pela criança é vital para o aprendizado. O simbólico refere-se à imaginação e serve para a gente interpretar a realidade e dar um novo significado ao que aconteceu. Portanto, dominar esta capacidade de simbolizar é decisivo para a saúde mental. Dois estímulos que fazem muito bem para o desenvolvimento dos pequenos e eles adoram: o brincar e as histórias. São atividades que auxiliam na aprendizagem e ligam o real ao imaginário.
A brincadeira é uma atividade que pode servir de alívio para uma situação vivida que gerou ansiedade. Permite que a criança tenha contato com suas emoções e possa modificar seus sentimentos. A conhecida brincadeira de fazer aparecer e reaparecer uma pessoa ou um objeto foi estudada por Freud, o Pai da Psicanálise. Ele relacionou tal brincadeira com a angústia que a criança tem quando precisa se separar da mãe. No caso, repetir o aparecer e desaparecer de um carretel simbolizando a mãe é uma oportunidade de diminuir o sofrimento de modo inconsciente. Simboliza o desaparecimento, mas também o retorno da mãe. Geralmente, a criança pede para o adulto repetir o ato inúmeras vezes e chega a uma feliz gargalhada, libertando-se de sua angústia.
Brincar é dominar o próprio mundo. Explorar, descobrir e aprender sobre ele e sobre si mesmo. Construir a base do fazer. É experimentar. Portanto, quanto mais estimulantes forem as brincadeiras, melhor. O importante é exercitar o ato de criar, a criatividade. Isso vai contribuir para produção da subjetividade do seu (ua) pequeno (a), as características que fazem dele (a) um ser único (a).
A outra atividade é o contar histórias para as crianças. Momento no qual elas têm a oportunidade de resolução de conflitos internos a partir de narrativas que retratam problemas enfrentados por elas em suas próprias vidas. Permite a identificação com determinados personagens, também fortalecendo seu jeito próprio de ser. As histórias trazem diferentes maneiras de pensar e agir, que sequer a criança imaginava ser possível. Com isso, a criança consegue entender melhor a si mesma.
Mas o desprazer também é um elemento decisivo de acesso ao mundo simbólico e às relações com os outros. A frustração faz com que a criança tenha que agir. Ela é obrigada a testar a realidade e se desenvolver. É o mal-estar do desamparo que faz o ser humano entrar em contato com a moralidade. No momento do “não” é que a criança se vê de frente com as regras e normas para a vida em sociedade. Surgem as primeiras noções de certo e de errado, de permitido e de proibido. Os valores necessários para a convivência social. Mas isso é assunto para nosso próximo texto…
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