Os Enganos da Educação Tradicional

Você já se sentiu preso em um ciclo de punições e castigos, tentando corrigir o comportamento de seu filho sem obter os resultados desejados? Se a resposta for sim, você não está sozinho. Que atire a primeira pedra o pai ou a mãe que nunca ameaçou o filho com frases como “Faça a lição de casa ou fique sem tela” ou que não recorreu a castigos como “Vá para o seu quarto, uma semana sem tela e sem saídas para brincar”.

Se você é como a maioria dos pais, provavelmente já tentou essas táticas uma ou várias vezes e, aposto que, em todas elas, uma semana depois, você se viu eepetindo as mesmas ameaças e punições. Esse ciclo de ameaças e punições não é benéfico nem para você nem para seus filhos. No entanto, é completamente compreensível sentir-se frustrado e incapaz quando não sabemos o que mais fazer.

Por que evitar punições e castigos?

A punição está focada no passado, no que aconteceu, e não no futuro, buscando soluções. Alguns problemas que podem surgir ao utilizar punições como estratégia de ensino:

  • Interromper o mau comportamento momentaneamente, mas não resolver o problema a longo prazo.
  • Prejudicar a conexão emocional entre pais e filhos.
  • Ensinar às crianças que os problemas são resolvidos através de poder e controle, não através de compreensão e cooperação.
  • Criar um “lócus de controle externo”, onde as crianças dependem de fatores externos para regular seu próprio comportamento.

Como pais e cuidadores, todos queremos o melhor para nossas crianças. No entanto, esses são os enganos da educação tradicional, embora possa parecer eficaz no curto prazo, tem consequências significativas no desenvolvimento infantil a longo prazo. Pesquisas recentes mostram que existem alternativas mais eficazes e respeitosas para orientar o comportamento infantil.

A boa notícia é que existe uma maneira mais respeitosa e eficaz de educar: a Educação Respeitosa. Como educadora parental e especialista nesse tema, desenvolvi o Método SOS.I (SOS INFÂNCIA), uma abordagem que transforma a disciplina em um processo de aprendizagem, focando no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais em vez do foco no comportamento.

Disciplina com Respeito

A disciplina não deve ser sinônimo de punição. Em vez de tentar controlar o comportamento de nossos filhos através do medo ou da vergonha, devemos nos concentrar em ensiná-los a lidar com suas emoções e ações.

Nossos filhos chegam ao mundo cheios de sentimentos, mas sem saber muito bem o que fazer com eles. Quando uma criança grita, bate ou age de um jeito que não gostamos, ela está mostrando que ainda não tem habilidades para lidar com o que está sentindo no momento.

Como pais, nossa responsabilidade é ensinar a nossos filhos as habilidades emocionais que ainda não desenvolveram — em vez de puni-los por não possuí-las.

A eficácia da disciplina não está em punir as crianças por um mau comportamento nem em tentar “corrigi-las” como se houvesse algo a ser consertado. Trata-se de ensiná-las as habilidades necessárias para enfrentar desafios e tomar boas decisões.

Quando você aborda a disciplina sob essa perspectiva, não apenas reduz os conflitos em casa, mas também cria uma conexão mais forte com seus filhos enquanto ensina habilidades valiosas que os acompanharão por toda a vida.

Estratégias para uma Educação Respeitosa

Aqui estão algumas estratégias que podem ser aplicadas no dia a dia no lugar de punição e castigo.

No lugar de punição > Convido você a se perguntar: “Que habilidade meu filho está precisando aprender neste momento?” “O que está por trás deste mau comportamento?” “Como posso ajudá-lo a entender melhor o que está sentindo?”

Conexão antes de correção – Sempre > A principal razão pela qual os pais têm que repetir a mesma orientação várias vezes e ainda assim a criança faz o contrário está relacionada a este momento. Geralmente, os pais querem disciplinar e corrigir o comportamento antes de se conectar, e é aí que está o erro. Um cérebro emocionalmente desregulado não irá ouvir nem processar as informações; logo, não irá aprender. Portanto, se sua intenção for ensinar algo ao seu filho, tenha como premissa que primeiro você precisa se conectar emocionalmente com ele, para que o cérebro dele se regule e ele possa te ouvir, assimilar e aprender com você. Uma coisa é regular as emoções; outra coisa é regular o comportamento! Ambas devem ser feitas, preferencialmente nesta ordem. Não tenha pressa; o maior engano da educação tradicional é achar que se não corrigir a criança no ato irá reforçar o comportamento. Você deve e irá corrigir; mas se fizer isso no momento errado ou seja, antes de se conectar com seu filho seus ensinamentos entrarão por um ouvido e sairão pelo outro, sem nenhum impacto em sua mente.

  • Dar um Tempo para Acalmar Às vezes é útil dar espaço para que a criança se acalme antes de continuar a conversa. “Vamos dar um tempinho para você respirar e se acalmar. Quando estiver pronto, podemos conversar sobre o que aconteceu.”

Depois que a situação se acalmar, ajude a criança a pensar sobre o ocorrido e conduza-a à busca de soluções.

  • Como se conectar? Aqui vai um exemplo: Em vez de dizer: “Não bata em seu irmão”, tente algo como: “Eu vejo que você está muito bravo com seu irmão. Pode me contar o que aconteceu que te deixou tão irritado? Estou aqui para ouvir você.”

A próxima etapa dentro do passo conexão é uma ferramenta que nomeio de Escuta Ativa”: a arte de ouvir seu filho com empatia. Ouça com o coração; evite criar narrativas internas sobre porque ele não deveria ter feito aquilo; apenas ouça e tente enxergar o ocorrido através dos olhos do seu filho.

  • Validar e Nomear os Sentimentos – Nomear e validar os sentimentos do seu filho é o primeiro passo para que ele aprenda a se controlar e se regular da próxima vez. Não posso controlar aquilo que não conheço; então nomeie as emoções para seu filho e ajude-o a perceber qual emoção surgiu que fez com que ele se comportasse daquela maneira.

“Entendo que você tenha ficado com raiva por ele ter pegado seu brinquedo; no seu lugar eu também ficaria chateada.”

  • Ofereça Alternativas – A criança volta a repetir os mesmos comportamentos porque não sabe como lidar com o que está sentindo; a única forma conhecida é aquela já colocada em prática. Então você precisa dar alternativas: O que seu filho pode fazer quando voltar a sentir raiva (o que irá acontecer inúmeras vezes).

O que ele pode fazer no lugar de bater?

“Eu vejo que você está muito bravo agora; isso é normal! Porém bater não é uma opção nem solução para o que você está sentindo. Que tal pensarmos juntos em uma solução?

Da próxima vez que você se sentir tão chateado, o que pode fazer no lugar de bater? Você tem alguma ideia?”

  • Estabeleça Limites Firmes com Conexão – É importante se conectar? Sim! Mas tão importante quanto isso é estabelecer limites firmes. “Você tem permissão para sentir o que quiser; nem sempre é fácil ter um irmão! Está tudo bem sentir raiva dele às vezes; pode ser que essa raiva precise sair através da força. No entanto, não vou permitir você bater no seu irmão ou em outras pessoas; mas você pode bater nesta almofada! Me avise quando der todos os seus socos nela; eu estarei aqui até seu corpo se acalmar.”

Você também pode:

• Gritar e bater firme os pés no chão.

• Pedir minha ajuda.

• Ir para o seu quarto tentar se acalmar.

• Pegar um brinquedo ou objeto calmante.

O redirecionamento ensina seu filho que está tudo bem sentir o que quiser; mas não está tudo bem fazer o que quiser.

Priorize o Tempo Juntos- Reserve momentos especiais para estar com seu filho sem distrações. Esses momentos fortalecem os laços familiares e aumentam a cooperação quando surgem desafios. “Vamos ter um ‘Tempo Especial’ agora! O que você gostaria de fazer juntos? Pode ser brincar, ler ou desenhar — a escolha é sua!”

Modele Comportamentos Positivos Mostre ao seu filho como lidar com emoções difíceis através do exemplo. Quando você enfrentar frustrações, verbalize suas emoções e compartilhe como você se acalma: “Hoje tive um dia difícil; estou frustrada! Vou para meu quarto respirar fundo e ficar quietinha; isso me ajuda.”

Reconheça as Habilidades Positivas – Valorize as pequenas conquistas do seu filho ao invés de focar apenas no comportamento adequado. Dizer “Estou tão orgulhosa de como você pediu ajuda!” reforça sua autoconfiança: “Estou tão orgulhosa de como você pediu ajuda ao invés de bater! Isso mostra que você está aprendendo a controlar suas emoções.”

Coloque Foco no Que Há de Bom em Seu Filho – Se quisermos tirar o melhor dos nossos filhos, precisamos ver o melhor neles. 

Preste atenção ao “bom comportamento”.

 Talvez seja seu filho respirando fundo enquanto tenta não jogar longe um brinquedo por estar frustrado ou calmamente pedindo o brinquedo de volta ao irmão em vez de empurrá-lo. Reconheça as habilidades por trás do comportamento: “Notei quão calmamente você pediu seu brinquedo de volta para seu irmão! Sabia que podia confiar em você; conseguiu encontrar uma maneira diferente de agir mesmo quando estava bravo! Você realmenteestá prestando atenção em seus sentimentos e escolhendo melhores ações; estou orgulhosa de você — espero que também esteja!”

Ao desviar nossa atenção do comportamento para as habilidades necessárias naquele momento, ensinamos aos nossos filhos confiança na capacidade interna de fazer o bem mesmo quando não estamos nos sentindo bem. Essa autoconfiança diz: “Mesmo quando as coisas parecem difíceis por dentro, posso escolher como agir por fora; então ficarei bem por dentro.”

Ao adotarmos uma abordagem respeitosa e empática na educação, não apenas ajudamos nossos filhos a desenvolverem habilidades emocionais essenciais, mas também criamos um ambiente familiar mais harmonioso e conectado.

Lembre-se de que a disciplina deve ser vista como uma oportunidade de aprendizado, não como um meio de controle. Portanto, ao invés de cair na armadilha das punições e castigos, que tal embarcar nessa jornada de aprendizado juntos?

Vamos cultivar um espaço onde nossos filhos se sintam seguros para expressar suas emoções e aprender com seus erros. Juntos, podemos transformar a maneira como educamos nossas crianças e, assim, contribuir para a formação de uma sociedade mais respeitosa, empática e compreensiva.

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